Nayara diz que Lindemberg planejou morte de Eloá. 'Ela mentiu', rebate defesa
Única testemunha ocular da invasão do apartamento que terminou
com a morte, aos 15 anos, de Eloá Cristina Pimentel, a estudante Nayara
Rodrigues da Silva, de 18, foi o personagem principal do primeiro dia de
julgamento de Lindemberg Alves, de 25 anos. Baleada em outubro de 2008,
emocionou-se ao lembrar da invasão policial, após 100 horas de cárcere. Mesmo
confrontada pela advogada de defesa, Ana Lúcia Assad, garantiu que Lindemberg
planejou o crime. Eloá 'não sairia de lá viva', segundo disse.
Em determinado momento, a juíza Milena Dias teve de 'defender'
Nayara das investidas da defesa. Ela ressaltou que a garota também 'era vítima'.
Ao fim do depoimento dela, Ana Lucia afirmou aos jornalistas que Nayara, por ser
vítima, não tem compromisso com a verdade, e mentiu. 'Ela está em condição de
vítima, não precisa falar a verdade. Mentiu, aumentou, encenou e até fingiu que
estava emocionada.' A jovem não falou com a imprensa.
Já Lindemberg aparentou calma durante todo o dia. Sentado à
frente dos jurados - seis homens e uma mulher -, manteve-se de cabeça erguida,
mas procurou não olhar para a plateia. Deixou o plenário só durante os
depoimentos de Nayara e Victor Lopes, a pedido de ambos.
Todos os depoimentos da acusação tentaram mostrar o réu como um
homem violento, de sangue frio. Segundo Nayara, em nenhum momento, ele largou a
arma. Ao ouvir isso, a advogada de defesa foi irônica ao comentar ser
'engraçado' Nayara afirmar que Lindemberg sempre amarrava os reféns com a arma
em punho. 'Engraçado, né? Para a senhora ver', respondeu a jovem, com
sarcasmo.
O crime. Nesse clima tenso, Nayara detalhou a invasão do Grupo
de Ações Táticas Especiais (Gate) da Polícia Militar. Afirmou que os tiros só
foram disparados após a polícia soltar uma bomba para invadir o local. Apesar de
não ter conseguido ver quem deu os tiros, ela relatou ter ouvido os três
disparos quando a polícia estava do lado de fora e ainda tentava arrombar a
chutes a porta do apartamento, que havia sido bloqueada com uma mesa momentos
antes por Lindemberg.
'Entrou fumaça, coloquei a mão no rosto e me cobri com o
edredom. Aí senti meu rosto estranho, ouvi uns barulhos (os disparos) e depois
vi a Eloá desacordada e os policiais tentando desarmá-lo (Lindemberg).'
Sobre sua volta ao cativeiro, após ser liberada por Lindemberg,
ela afirmou ter sido chamada em casa por policiais. 'Na quinta-feira (dia 16),
tinha um policial dizendo que era para eu voltar e ajudar nas negociações',
lembra a jovem. Ao voltar ao prédio de Eloá, ela afirmou que a mãe dela foi
barrada na porta pelos policiais.
Em contato telefônico com Lindemberg, a testemunha teria sido
orientada a ir até a porta do apartamento. Quando entrou novamente na
residência, afirmou que encontrou Eloá bastante ferida. 'Ela havia apanhado a
noite inteira. Estava exausta e disse que sabia que ia morrer.'
Outras testemunhas.Ontem foram ouvidos também os dois amigos de
Eloá mantidos como reféns - Victor Lopes e Iago Vilela de Oliveira, ambos de 18
anos. Os dois confirmaram que Lindemberg tinha intenção de matar Eloá desde o
início e relataram que foram agredidos pelo réu. Iago prestou depoimento na
frente do acusado e afirmou que ele se 'gabava do poder' que adquiriu ao invadir
o apartamento, no ABC paulista.
A última testemunha ouvida foi o sargento Atos Valeriano. Ele
contou que Lindemberg tentou matá-lo no primeiro dia do sequestro. O julgamento
será retomado hoje, a partir das 9 horas. Ainda não há definição sobre a data do
depoimento da mãe da vítima e do irmão mais novo, que foram arrolados pela
defesa ontem. Mas há expectativa de que o júri seja concluído amanhã.
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